A minha paranóia é constante,
Está em todos os lugares!
Está na mulher que comenta sobre meus cabelos altos.
Está nos bairros periféricos sem luz,
Está na ladeira da montanha,
Está nas novelas e suas empregadas.
A minha paranóia é constante,
Está nos comerciais de televisão,
Está na negação da cor e das cotas,
Está na atendente de shopping,
No segurança de shopping.
A minha paranóia é constante,
Está nos apelidinhos carinhosos, que eu adoro.
Macaco, Negrinha, Ladrão, Marginal, Assassino, Brown...
A minha paranóia é constante,
Está no elevador de serviço,
Nos salões que não cortam meu tipo de cabelo,
No batalhão de negras e não-negras do Corredor da Vitória às 06:00 da manhã.
A minha paranóia é constante,
Está com Tia Nastácia na cozinha,
Com Monteiro Lobato em Negrinha,
Está com as protagonistas negras da Cor do Pecado,
A minha paranóia é constante,
Dorme e acorda comigo e com o mundo,
Num Salvador, que não salva ninguém.